terça-feira, 26 de maio de 2009

A CRIANÇA SABE DESENHAR

Usados de forma generalizada na pré-escola e no primeiro grau, os desenhos para colorir são na verdade, a negação do desenho. Normalmente, esses desenhos prontos desrespeitam a inteligência e a sensibilidade da criança. Serve mais para impor à criança as intenções do adulto do que abrir espaço para a criança manifestar suas intenções.
Assim mesmo, os desenhos para colorir continuam sendo fortemente utilizados na sala de aula, para introduzir temas "fixar" conceitos, nas atividades de colagem ou mesmo nas datas comemorativas. As crianças gostam, porque foram acostumadas e porque não têm outras opções, mais nem tudo o que a criança gosta é educativo.
O desenho para colorir é como a antiga tabuada, na qual se decora o resultado sem entender porque. Ora, em lugar de se dar só o resultado é muito mais educativo estimular a percepção, o raciocínio e a criatividade. Por isso, esse tipo de desenho deveria ser substituído por uma atividade que respeitasse a capacidade e a necessidade da criança se expressar.
Ao tratar frutas, por exemplo, o professor pode levar uma fruta para a sala e conversar com os alunos sobre as características dessa fruta. As crianças podem observar, cheirar, sentir a fruta, e depois desenhá-la. E o professor deve entender que a criança não desenha só o que ela vê. Ela desenha o que vê, sabe, gosta e imagina. Por isso, ela usa cores diferentes das que são consideradas "corretas". Alias o uso de cores "erradas" é um recurso que os próprios artistas adultos utilizam para se expressar melhor.
O desenho pronto interfere também, negativamente, no processo de desenvolvimento da criança. Na idade em que ela está querendo só rabiscar, diante do desenho pronto ela acaba se limitando a fazer dois ou três tipos de rabisco mais adequados para preencher o espaço. No entanto, em seus desenhos espontâneos, essa criança pode chegar a usar até 20 tipos deferentes de rabiscos.
Normalmente, a partir de um ano e meio de idade, a criança começa a experimentar vários tipos de traço. Com três anos, enche o papel com formas como quadrados, triângulos, cruzes ou formas irregulares. Aos quatros anos, ela já combina essas mesma formas para representar o sol, pessoas, casas, árvores, carros, animais, etc. É assim que tem início o desenho figurativo, cujo processo de descobrimento pode ser prejudicado com o desenho pronto entregue à criança. Mesmo porque, se a capacidade de desenhar não é praticada, ela acaba se atrofiando. E a falta de prática, alimenta a falsa idéia de que desenhar é só para quem tem "dom". Não é verdade. Para que se desenvolva a capacidade de desenhar é preciso-antes de qualquer outra coisa- dar mais espaço para expressão própria da criança, sem a imposição de desenhos prontos para colorir.

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